quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Hebert Rolim

Tomar Lugar na Máquina em Fortaleza, no THEATRO JOSÉ DE ALENCAR de 13/10/10 a 13/11/2010.  Na entrada do Theatro, entre 08h e 12h, duas máquinas de costura tecem fios entre uma  conversa e outra com a costureira D. Carol e outra profissional. Assim,  inicia a proposta para a Bienal de Dança com a mão na obra do Hebert Rolim. Confira!

domingo, 10 de outubro de 2010

Alguns conceitos

Alguns conceitos
A presença das costureiras terá função ritualística, retomando a fundação da economia da cidade e das famílias. A forma como ela se apresenta não é uma elegia estática do passado e do presente, passível de ser folclorizada: propõe o desafio de uma fundação continuada, onde o telos não é mais da vida individual e familiar, mas da vida pública: como se funda uma cidade? Esta é a pergunta que a ocupação lança.
Nos apoiamos em Luigi Pareyson (1918-1991) para afirmar que a arte é fundadora de socialidade, alterando disposições e modos de ser, transfigurando-se em condição essencial para a civilização. A arte, sendo mais livre “da feroz rede das necessidades e dos interesses, dispõe o ânimo para o desinteresse, para a contemplação, para o reconhecimento, para a atenção, e o introduz nos altos cumes da vida espiritual” (PAREYSON 2001, 122).  Ao dissociar o uso da máquina de costura das práticas relacionadas à necessidade da sobrevivência, recontextualizando-o dentro de processos artísticos provocamos um movimento contraditório de reconhecimento e disjunção, onde a possibilidade do fundamentalmente novo pode emergir.
O resultado não é a transposição de um ateliê de costura, mas a instauração de um espaço de invenção e expressão de um sentimento de urbanidade diferenciado daquele instaurado pela competição e pressa, onde a concepção de público é subordinada aos valores produzidos pelo capitalismo. Expressão aqui inclui as reflexões de Certeau (2007) sobre ações cotidianas como narrar, fazer, de se locomover, comprar, cozinhar, conversar como linguagens através das os indivíduos com todas suas singularidades e idiosincrassias podem praticar a cidade, potencializando-a e reconstruindo-a.  Este ato de exercer a cidade de forma simultaneamente pessoal, estética e política nos leva a  Debord e os situacionistas: Com a leitura e discussão urbanismo unitário lemos que o que chamamos ocupação começa já. Pode-se compreender com a ajuda do ‘vazio positivo’ forjado pela moderna física. Materializar a liberdade é em primeiro lugar diminuir de um planeta domesticado algumas parcelas de sua superfície.”  (Attila Kotanyi & Raoul Vaneigem, 1966).

Tomar Lugar na Máquina - Memórias, instigações:


Tomar Lugar na Máquina
Proponente
Júlio Lira – Coletivo MESA (Mediação de Saberes)
Memórias, instigações:
Uma máquina de costura, principalmente se antiga, nos leva a muitas paisagens enevoadas. Bisavós, no sertão, fazendo vestidos de casamentos para noivas exigentes da capital; Avós, mesmo doentes, sustentando altaneiras suas famílias com uma máquina de costura; Sapateiros fazendo de cada conserto oportunidade de conversa; alfaiates ciosos do ofício. A máquina de costura foi solução que incontáveis cearenses encontraram para ganhar a vida. Na infância, as donas-de-casa, a tinham por perto, que se incorporavam às brincadeiras de criança com suas gavetas cheias de trecos, carretéis vazios, linhas, óleo pra máquina. O próprio corpo da máquina era explorado, ora cavalo de tróia, ora esconderijo de tesouros.
Cabe um olho agradecido por esta invenção que pôde se transformar em bem de capital, em balsa salva-vidas em um oceano de possibilidades reservadas. A máquina de costura é um objeto que marca fortemente a economia e as identidades de Fortaleza. Depois dos anos 60, principalmente com o apoio de investimentos da SUDENE, muitas indústrias de confecção se instalaram criando novos tipos de relações de trabalho, inserindo as costureiras na classe operária. Fala-se, não encontramos a fonte, que existem em Fortaleza 100.000 pessoas que trabalhavam com confecções. Considerando a média de quatro pessoas por família, chegar-se-ia ao número de 400.000 pessoas que tem sua sobrevivência garantida ou melhorada pelo uso destas máquinas. Uma estimativa importante para interagir com a cidade.
A máquina de costura está no inconsciente de Fortaleza. Temos por ela um afeto especial; nela reconhecemos a invenção, o sustento, a intimidade. Isso nos instiga e se transforma em matéria para arte. O que fazer com isso? A proposta de ocupação apresentada pelo Encontro Terceira Margem ao eleger a performance com linguagem destacada e centrar seu foco nas relações entre dança e cidade nos pareceu muito apropriada para canalizar tais comoções. Vemos nisso um campo fértil para experimentações.
Juntemo-nos nesse imaginar-fazer.