domingo, 10 de outubro de 2010

Alguns conceitos

Alguns conceitos
A presença das costureiras terá função ritualística, retomando a fundação da economia da cidade e das famílias. A forma como ela se apresenta não é uma elegia estática do passado e do presente, passível de ser folclorizada: propõe o desafio de uma fundação continuada, onde o telos não é mais da vida individual e familiar, mas da vida pública: como se funda uma cidade? Esta é a pergunta que a ocupação lança.
Nos apoiamos em Luigi Pareyson (1918-1991) para afirmar que a arte é fundadora de socialidade, alterando disposições e modos de ser, transfigurando-se em condição essencial para a civilização. A arte, sendo mais livre “da feroz rede das necessidades e dos interesses, dispõe o ânimo para o desinteresse, para a contemplação, para o reconhecimento, para a atenção, e o introduz nos altos cumes da vida espiritual” (PAREYSON 2001, 122).  Ao dissociar o uso da máquina de costura das práticas relacionadas à necessidade da sobrevivência, recontextualizando-o dentro de processos artísticos provocamos um movimento contraditório de reconhecimento e disjunção, onde a possibilidade do fundamentalmente novo pode emergir.
O resultado não é a transposição de um ateliê de costura, mas a instauração de um espaço de invenção e expressão de um sentimento de urbanidade diferenciado daquele instaurado pela competição e pressa, onde a concepção de público é subordinada aos valores produzidos pelo capitalismo. Expressão aqui inclui as reflexões de Certeau (2007) sobre ações cotidianas como narrar, fazer, de se locomover, comprar, cozinhar, conversar como linguagens através das os indivíduos com todas suas singularidades e idiosincrassias podem praticar a cidade, potencializando-a e reconstruindo-a.  Este ato de exercer a cidade de forma simultaneamente pessoal, estética e política nos leva a  Debord e os situacionistas: Com a leitura e discussão urbanismo unitário lemos que o que chamamos ocupação começa já. Pode-se compreender com a ajuda do ‘vazio positivo’ forjado pela moderna física. Materializar a liberdade é em primeiro lugar diminuir de um planeta domesticado algumas parcelas de sua superfície.”  (Attila Kotanyi & Raoul Vaneigem, 1966).

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