domingo, 10 de outubro de 2010

Tomar Lugar na Máquina - Memórias, instigações:


Tomar Lugar na Máquina
Proponente
Júlio Lira – Coletivo MESA (Mediação de Saberes)
Memórias, instigações:
Uma máquina de costura, principalmente se antiga, nos leva a muitas paisagens enevoadas. Bisavós, no sertão, fazendo vestidos de casamentos para noivas exigentes da capital; Avós, mesmo doentes, sustentando altaneiras suas famílias com uma máquina de costura; Sapateiros fazendo de cada conserto oportunidade de conversa; alfaiates ciosos do ofício. A máquina de costura foi solução que incontáveis cearenses encontraram para ganhar a vida. Na infância, as donas-de-casa, a tinham por perto, que se incorporavam às brincadeiras de criança com suas gavetas cheias de trecos, carretéis vazios, linhas, óleo pra máquina. O próprio corpo da máquina era explorado, ora cavalo de tróia, ora esconderijo de tesouros.
Cabe um olho agradecido por esta invenção que pôde se transformar em bem de capital, em balsa salva-vidas em um oceano de possibilidades reservadas. A máquina de costura é um objeto que marca fortemente a economia e as identidades de Fortaleza. Depois dos anos 60, principalmente com o apoio de investimentos da SUDENE, muitas indústrias de confecção se instalaram criando novos tipos de relações de trabalho, inserindo as costureiras na classe operária. Fala-se, não encontramos a fonte, que existem em Fortaleza 100.000 pessoas que trabalhavam com confecções. Considerando a média de quatro pessoas por família, chegar-se-ia ao número de 400.000 pessoas que tem sua sobrevivência garantida ou melhorada pelo uso destas máquinas. Uma estimativa importante para interagir com a cidade.
A máquina de costura está no inconsciente de Fortaleza. Temos por ela um afeto especial; nela reconhecemos a invenção, o sustento, a intimidade. Isso nos instiga e se transforma em matéria para arte. O que fazer com isso? A proposta de ocupação apresentada pelo Encontro Terceira Margem ao eleger a performance com linguagem destacada e centrar seu foco nas relações entre dança e cidade nos pareceu muito apropriada para canalizar tais comoções. Vemos nisso um campo fértil para experimentações.
Juntemo-nos nesse imaginar-fazer.

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